Fotos: Arquivo pessoal
Com a esposa Marlene Dorneles Silveira
Ele foi criado em meio a histórias da ferrovia e ao som do apito do trem. Nascido em uma família de ferroviários, foi no Exército que o santa-mariense consolidou a carreira. Nos 30 anos de caserna, exerceu diferentes funções. Como motorista, passou por momentos memoráveis, entre eles, conduzir o ex-presidente da República Emílio Garrastazu Médici, quando esteve em visita a Santa Maria. Nesta trajetória, Silveira recebeu a medalha do Pacificador com Palma, uma das mais importantes condecorações em tempos de paz. O militar da reserva sempre morou na cidade natal, onde constituiu a família. Casado, há 51 anos, com Marlene Dorneles Silveira, ele é pai de Giovane, 50, Helena, 48, das gêmeas Lúcia e Luciana, 45, e Silvia, 38. Os 16 netos e os quatro bisnetos são a alegria desse avô que, aos 71 anos, tem muitas histórias para contar. Nesta entrevista, ele compartilha um poucos dessas memórias.
Diário - De que forma o senhor ingressou na carreira militar?
Ari Dornelles Silveira - Comecei pelo serviço obrigatório, aos 18 anos. A partir dali, me dediquei ao Exército com amor. Tenho a mais alta medalha das Forças Armadas, o Pacificador com Palma, resultado de trabalhos em missões com a Aeronáutica, no período do Regime Militar, além de outros serviços prestados. Em 15 de maio de 1966, entrei na Companhia de Comando da 3ª Divisão de Exército (3ª DE), como soldado. Logo, passei a trabalhar nas garagens e, em 1971, fui indicado para conduzir o Chefe do Estado Maior (Chem). Como motorista do comando, trabalhei com autoridades. Dirigi para o general Médici, para o irmão do ex-presidente João Figueiredo, entre outros. Já a medalha resultou de uma missão no Campo do Saicã, em Rosário do Sul, em movimentações aéreas, na qual fiz o transporte de combustível. Quando retornei, fui indicado para receber a medalha, em outubro de 1973. Foi um momento de muita emoção.
Certificado da Medalha do Pacificador com Palma
Diário - O senhor cresceu em uma família de ferroviários. Que lembranças guarda daquela época?
Ari - Ainda moro perto dos trilhos. Tem dias que o som do apito é triste. Parece que o maquinista sente que não é o mesmo som de antigamente. Comecei a trabalhar na Avenida Rio Branco, onde, hoje, é o túnel. Ali, havia alguns caminhões que descarregavam as encomendas que vinham nos trens. Ficávamos à espera para fazer frete ou descarregar mudanças. Foi assim que aprendi a dirigir. Quando saí do Exército, voltei para a área ferroviária e atuei, também, na coordenação de carregamentos de arroz nos trens em Cacequi, para a Urbano.
Ari na época em que trabalhou com a Urbano
Diário - Como foi a sua atuação em trabalhos voluntários?
Ari - Ainda quando era militar, fui presidente do Círculo de Pais e Mestres da Escola Municipal de Ensino Fundamental Maria de Lourdes Bandeira Medina, onde ajudei na construção do banheiro, da cozinha e do ambulatório. Fui convidado, posteriormente, para atuar na igreja como ministro da Palavra e da Eucaristia. Quando me afastei dessa ações, senti falta. Quando ia à missa, chorava nos momentos da Eucaristia. À época, fui presidente dos ministros da Zona Norte e coordenador da Pastoral dos Ministros. Ao ir para a reserva (ao me aposentar), dediquei-me, exclusivamente, ao voluntariado. Quando saí do Exército, dom Ivo Lorscheiter me chamou para trabalhar com as creches da Diocese, junto ao Banco da Esperança. Até três anos atrás, eu assinava os cheques da Diocese, referentes aos custos da merenda escolar. Tive a autonomia para administrar três creches, função que me deu oportunidade de fazer importantes relações na igreja. Fui bastante amigo de dom Ivo. Ele era um santo homem. Tenho a alegria de guardar vários certificados por essas ações e, também, por cursos concluídos naquele período.
Diário - A família é a base principal em toda essa trajetória?
Ari - Sim. Sinto muito orgulho deste alicerce. Tenho certeza que somos, realmente, uma família. Meus netos, já adultos, me pedem a bênção e me beijam, são carinhosos. Tenho netos na Polícia Rodoviária, outros em Cachoeira do Sul, outros mais perto. Sou muito abençoado dentro do setor familiar.
Momento da condecoração
Diário - O senhor é uma pessoa bastante respeitada na comunidade. Como construiu essa imagem?
Ari - Sempre preservei minha identidade e priorizei a sinceridade. Nunca tive problemas de prestação de contas, tampouco alguém precisou me cobrar algo. Minha vida é isso aí. Devido a essas características, sou indicado para ocupar algumas funções. Esses traços de personalidade são fortes na minha família e servem para afirmar como as coisas devem ser. No Exército, por exemplo, em 1985, quando saí da função de motorista, o soldado recebia em dinheiro. Responsável pela função, muitas vezes, saí da agência bancária com grandes valores, sempre acompanhado de um segurança, é claro. E te digo, nunca houve um ataque a minha pessoa